segunda-feira, 14 de abril de 2008

ESPERANÇA - “Tudo vale a pena, se a alma não for pequena”


O pessimista cronifica as perdas, vê o que falta na sua vida, se emaranha em lembranças saudosas, guarda rancores e se culpa pelos seus limites. O otimista nega a sombra, racionaliza o lado desastroso da existência, cindereliza a vida, só vê o bom, se perde no mundo do “faz de conta”, e, sem saber, se prepara para a decepção do pessimista quando eventualmente a casa cair. O realista tem um olhar objetivo para os dois lados da moeda. Ele tem consigo o compromisso de atravessar as intempéries da vida. Ele já descobriu que viver é ora descer vales, ora subir montanhas. Tem jeito de vivermos (ainda mais se tivermos a graça de viver muitos anos), sem perdas, sem doenças, sem abandonos, sem nos desorganizarmos de vez em quando, sem injustiças ou traições? Neurótico é a pessoa que não vê o óbvio. Enclausurados numa idéia romântica, idealizada de como o mundo deveria ser, não aprendemos a única coisa que precisamos na viagem humana.
Saber lidar com o fracasso quando ele bater na nossa porta. Ninguém é convidado a ultrapassar uma perda, soltando foguetes. Só um otimista tolo faria isso. Exige-se dele apenas não perder a esperança ou ficar em um beco sem saída, o que é a mesma coisa. Talvez não haja a saída que, na sua onipotência, ele deseja: que não tivesse tido a perda, que lê não tivesse cometido erros que o levaram a perder, que não tivesse sido passado para trás. Mede-se a humildade de uma pessoa, companheira, inseparável da esperança, na hora dos tombos, quando nos deparamos com a fragilidade humana.Por que será que, diante do infortúnio, alguns elaboram e aprendem e outros se comprazem em ficar na sombra, esperando que alguém venha salvá-los? Onde buscar forças para a travessia? Dentro de nós. Na reflexão interna. Muitas pessoas ficaram impressionadas com o intenso sofrimento de Jesus Cristo, mostrado pelo filme de Mel Gibson. O que mais me impressionou foi a rapidez com que tudo aconteceu. Após 3 dias da morte estava tudo resolvido: Ele ressuscitou. O sofrimento faz parte da vida humana. O que não podemos é permanecer muito tempo na dor, transformando-a em uma forma de viver. A esperança é a ponte entre as atribulações e nossa ressurreição de cada dia. O pesar pela perda é normal, mas não podemos botar em dúvida nosso valor, nossas crenças, nossa essência, nossos desejos, nosso lado luminoso. E para isso basta fechar os olhos e ouvir o coração. Peço ajuda a Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não for pequena”. Nossa alma é maior que todas as desgraças. Nos momentos de maior aflição sempre há brechas para o sol entrar. Temos, porém, de cooperar. Conversar com os amigos, caminhar (mesmo chorando), rezar, dançar, agradecer as coisas boas e as pessoas amadas, expressar os sentimentos ruins, são algumas possibilidades de quebrar a couraça do sofrimento e deixar que um pouco da graça apareça. Esperança é saber que tem jeito. E que nos temos jeito. Nem que seja mudar o jeito de ver a vida.

Antônio Roberto

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Existe muita gente inteligente por ai, mas... foi-se o tempo que isto era o suficiente. Hoje, o que me fascina é a criatividade, é a capacidade de inventar, juntar o nada com coisa nenhuma e disto nascer algo, é saber improvisar, é a sabedoria de "se virar" com os recursos disponiveis no momento. *******************************************************